sábado, agosto 25, 2007

O JORGE QUE É BRAGA

Quando eu assumi a direção de redação da revista O Cruzeiro, em 1965, já em total decadência, verifiquei que ela se transformara num semanário muito sério. Millôr Fernandes fora embora, levando seu excelente "Pif-Paf", e "O Amigo da Onça", criação genial de Péricles, não obtivera o mesmo êxito, depois que este se mandara para outras paragens. Substituído por diversos chargistas, nenhum conseguiu apreender o espírito sarcástico do personagem. Nem mesmo o genial Carlos Estevão. Péricles, concluimos, era insubstituível.
Foi quando Ziraldo me propôs publicarmos um caderno de humor encartado em "O Cruzeiro", com o sugestivo título de "O Centavo". Seriam quatro páginas a cores. Topei e convocamos a tropa. Nenhum dos melhores caricaturistas e chargistas da época fugiu ao chamado. Muitos, como Mino – hoje brilhando com seus livros e revistas no Ceará - , eram autênticos "focas", dispostos a provar que podiam vencer na então capital do País. Lembro-me que reunimos todos eles no estúdio fotográfico da revista. Por sugestão do Ziraldo, vieram vestidos de preto da cabeça aos pés. Infelizmente, essa histórica foto, perdeu-se entre meus confusos guardados.
É impossível citar todos eles, mas vou lembrar da maioria: o próprio Ziraldo, seu irmão Zélio e sua cunhada Ciça; Juarez Machado, Henfil, Mino, Willy, Adail, Carlos Estevão e muitos mais. De São Paulo, entre outros, os já consagrados Otávio e Hilde.
O sucesso foi imediato, refletindo-se na tiragem da revista, que caíra dos 750 mil dos bons tempos, para apenas 150 mil. Em um ano, com "O Centavo" e um grupo de jovens e entusiasmados repórteres, dando "furos" todas as semanas, elevamos a tiragem para 300 mil. Mas aí aconteceu uma traição. O aumento que haviam nos prometido não foi dado e eu pedi demissão.
O porquê de toda essa história ? Simplesmente para falar no nosso Jorge Braga, mineiro de Patos de Minas, que por certo estaria na linha de frente de "O Centavo", se já fosse o esplendido chargista que é hoje e que resolveu plantar suas raízes em Goiânia, mais precisamente em "O Popular".
Permitam que eu lhes informe que comecei minha carreira, aos 14 anos, como desenhista de histórias em quadrinhos. Daí que, quando descubro um talento, como o Jorge, procuro observar sua evolução e aplaudir seu trabalho. Aos 48 anos, dos quais 26 em "O Popular", ele já foi convidado para trabalhar em diversos veículos importantes do Rio e de São Paulo, mas permanece fiel à sua Goiânia.
Sua história começa no jornal 5 de março, em 1973, um semanário da capital de Goiás, onde assinava a hilariante seção "Café da Esquina". Tinha apenas 15 anos. E como até hoje, só fazia charge política. No tempo da ditadura militar- principalmente no governo Geyser - andou sendo perseguido, mas só teve umas três ou quatro piadas censuradas. Foi Jorge Braga quem lançou a primeira revista em quadrinhos em Goiás. Com grande sucesso, diga-se de passagem. Era a "Badião", que significa o mesmo que Zé em outros "idiomas". Em 1976, convidado por Hélio Rocha, foi trabalhar em "O Popular", onde brilha até hoje. Para Jorge Braga, os chargistas vivem bons tempos, "já que o Lula colabora muito conosco".
Eu sinto que o Jorge Braga não tenha feito parte de "O Centavo".
Mario de Moraes